
(tela de Lucien Freud)
Não gosto de jogar confete, dourar pílula ou outras atitudes do tipo - mas a poesia de Mar Becker é mesmo uma das mais fortes, profundas e impressionantes das que li nos últimos anos. Impossível não se deter, não ficar com a respiração suspensa, os sentidos embaralhados e a razão entre iluminada e confusa. E já falei demais. Quem quiser experimentar isso, que leia o poema.
Do meu caderno de experimentações - LXXVII
arquear o corpo da mulher. música xilofonada em ossos. tudo são arcadas, fósseis, o sangue apaixonado a se espraiar pelos microcanais das tetas.
cabeça, o lustre absoluto. uma imensa copa cujos galhos se inclinam para o outro lado da noite: ouve-se o silêncio, o tônus secreto das línguas, como que varado por um fogo de patas, que bate casco. queima, fluído.
dizem, é o canto desentranhado, a delicada implosão do músculo da luz; dizem, é o amor, de repente, uma lira quadrúpede que se deixa tanger pelo crime, este crime lentamente masculino.
tudo canta por baixo dos testículos tombados.
Publicado em http://deterdeondeseir.blogspot.com/
2 comentários:
Owwnnn, obrigada :')
Agradeça exclusivamente à sua poesia, Mar. Que beleza ser um de seus leitores!
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