segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

poesia (charles bukowski)

é
necessário
muito
desespero
insatisfação
e
desilusão
para
escrever
uns
quantos
bons
poemas.
não é
para
toda a gente
escrevê-
-los
ou até mesmo
lê-
-los

metáfora (david, de A Perfeição das Coisas)

Ontem, sem dar por ela, fui roubado. Para infelicidade do ladrão, a única coisa de valor que tinha comigo nessa altura era uma metáfora.

o céu + teatro + o abismo (3 poemas de Luís Miguel Nava)

O céu

Assoam-se-me à alma
quem como eu traz desfraldado o coração
sabe o que querem dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.


Teatro

Na selva dos meus órgãos, sobre a qual foi desde sempre a pele o
firmamento, ao coração coube o papel de rei da criação. Ignoro de que
peça é todo este meu corpo a encenação perversa, onde se vê o sangue
rebentar contra os rochedos. Do inferno,aonde às vezes o sol vai buscar
as chamas, sobre ele impediosamente jorram os projectores.

O abismo

Com a sua pele de poço,
pele comprometida com o medo que no fundo fede e a que,
digamos,toda ela adere de uma forma resoluta,
dir-se-ia que se engancha,se pendura,
o branco da memória a alastrar pelo corpo,
um branco tão branco como o das noites em branco
e sobre o qual a idade, exorbitada, hiante, se insinua,
pensos, ligaduras, impregnados de memória,
uma memória onde fulgura a lava dos sentidos que entram
em actividade e lhe disputam os dias idos,
assim ergue a balança,onde sustém o abismo.



Luís Miguel Nava
O céu sob as entranhas
Poesia Completa
1979-1994
Prefácio de
Fernando Pinto do Amaral
Organização e Posfácio de
Gastão Cruz
Publicações D. Quixote
2002