terça-feira, 18 de dezembro de 2007

e do Pessoa....




Sim, sei bem

Que nunca serei alguém.

Sei de sobra

Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,

Que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,

Enquanto dura esta hora,

Este luar, estes ramos,

Esta paz em que estamos,

Deixem-me crer

O que nunca poderei ser.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

de Adília Lopes, poeta de Portugal





Emily Dickinson

Mesmo que pudesse
dizer tudo
não podia dizer tudo
e é bom assim




S. João da Cruz

Mesmo que pudesse
dizer tudo
não podia dizer tudo
e é bom assim

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

a teoria confirmando a prática

pós-moderno é o caralho,

fodam-se todos vocês.

domingo, 2 de dezembro de 2007

a um poeta



para Antônio Cícero



Seus versos têm uma serenidade
(como os gestos que, sempre tão medidos,
só se agitam se falam da poesia)

que não tenho, não tive ou que perdi,
e se me fosse dado amar a um homem
(e não seria este destino um fardo,

mas é impossível pela conjunção
dos desígnios da carne e do espírito
em mim) decerto, sei, o amaria

- como já amo, em termos, pelas linhas
que sempre sua mão no tempo risca
e, às vezes, sigo como um estudante

que sabe estar o mestre muito acima
(um bom poeta, estando vivo ou não,
continua crescendo todo dia)

e o ama mesmo assim, porque o amor
é uma coisa que se tem por dentro
ou não se tem, assim como as palavras

que só esplendem quando bem domadas.
E foi por isso que fiz estes versos
mal acabados e quase sem luz

só pra ficar aqui, tranquilamente,
na antítese do amor que não quer nada
- porque no fundo nada é o que se tem.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Grafites....




Do teólogo dominicano Herbert Mc Cabe:
«If you don't love, you're dead; if you love too much, they'll kill you».

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

BALADA DO IMPOSTOR
(texto escolhido no site http://www.geraldocarneiro.com/ no concurso 'Balada do Impostor' dentre os enviados, juntamente com outros dois - certamente melhores que este aqui).

Geraldo Carneiro sou eu. Este que anda por aí com longos cabelos negros é um embuste, uma patranha. Não sei por qual estúpido motivo pessoas de consolidado intelecto lhe dão tanto e tão inesgotável crédito.

Você talvez me pergunte de que modo se instaurou esta situação que percorre a contramão da ordem universal onde uma pessoa é só e tão somente ela mesma, neste labirinto criado pela relatividade do tempo e pela ilusão de que o feixe multimilhardário de ondas constitui matéria sólida e palpável. Não sei. Formulo como hipótese uma articulação das forças do poder estabelecido para me expor ao mais completo ridículo, depois que capitaneei uma revolta pra independência do Estado da Guanabara, a ser transformado em Estados Unidos da Guanabara, que elevado seria à sua real condição de centro do mundo civilizado. Esta compacta rebelião teve lugar num boteco de Cascadura, de onde partimos a pé três bêbedos, um burrinho sem rabo e dois vira-latas, em direção ao Palácio da Alvorada, com o nobre intuito de declarar independente esta nossa nação, que tem por capital a Estação Primeira da Mangueira, por heróis cívicos Nelson Cavaquinho e Cartola e por repartições todos os pés-sujos e biroscas. Entretanto, o Planalto Central fica bem depois do Méier, onde finalmente desistimos ao parar pra tomar outras e umas.

Tamanha a constituição maquiavélica deste farsante, agora ele se declara impostor numa Balada, sabendo fazer esta confissão soar com uma fina ironia pós - tudo (“sou um impostor, um dia saberão/ que simulei tudo que sempre fui”) no que instaura em meus leitores a certeza de que ele sou eu e eu sou nada. Como se não bastasse, pôs-se a fazer antes de mim todos os meus poemas, emprestando-lhes a sua voz e desempregando a minha.

Agora promove este certame, sem sombra de dúvida a mim mesmo direcionado, e com tal requinte e zelo que qualquer resultado me solapa: se ignora, entre os muitos relatos recebidos, esta declaração, ancora-me no limbo onde me atirou faz tempo; se, por outra, me premia, transforma esta minha dor e desterro em ironia fina e construção sutil, me desterritorializando em definitivo de minha verdadeira essência.

De todo, não sei o que aconteceu: Geraldo Carneiro c’est moi e ninguém percebeu.

domingo, 18 de novembro de 2007

...todo princípio vem depois...




o mundo acabou noite passada, lentamente, alegremente,
entre as vertigens do prazer
na madrugada.

muito cedo, fui à praia conferir:
pela manhã, indiferente,
o sol nasceu
de novo.