domingo, 15 de abril de 2012

O POETA E SEU SÉCULO DEMENTE (todos os séculos...)

(grafitti de Banksy) "Em 1923, Osip Mandel'stam escreve uma poesia que se intitula 'O século' (mas a palavra russa 'vek' significa também 'época'). Essa contém não uma reflexão sobre o século, mas sobre a relação entre o poeta e o seu tempo, isto é, sobre a contemporaneidade. Não o século, mas, segundo as palavras que abrem o primeiro verso, o 'meu século' (vek moi): "Meu século, minha fera, quem poderá/olhar-te dentro dos olhos/e soldar o sangue/as vértebras de dois séculos." O poeta, que devia pagar a sua contemporaneidade com a vida, é aquele que deve manter fixo o olhar nos olhos do século-fera, soldar com o seu sangue o dorso quebrado do tempo. [...] o tempo da vida do indivíduo e o tempo histórico coletivo, que chamamos, nesse caso, o século XX, cujo dorso [...] está quebrado. Não apenas a época-fera tem as vértebras fraturadas, mas 'vek', o século recém-nascido, com um gesto impossível para quem tem o dorso quebrado quer virar-se para trás, contemplar as próprias pegadas e, desse modo, mostra o rosto demente." Giorgio Agamben, "O que é o contemporâneo?"

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