terça-feira, 10 de abril de 2012

jogos de armar/ trajeto


(Falling Man - fotografia de Richard Drew, em 11 de setembro de 2001)

Entrar (, violento, abrupto como cápsula de metal, nave que incandesce enquanto cai no ar denso, metáfora brilhando rubra na escuridão do céu, diáspora em que não se sai, antes se mergulha no nada até rebentar no chão qual semente e, assim, germinar) no real, cair (, precipitar-se numa fuga pelo abismo, voluntário mau passo no vazio, deixando o chão que o arranha-céu alçou, artificial e estranhamente, ao antes impossível espaço dos pássaros, verter-se até o fim como quem não vai se encontrar) em si.

2 comentários:

Mar Becker disse...

O primeiro é um golpe violento: mas tem algo de calma estratosférica, porque fora do eixo gravitacional.

Só que 'se mergulha no nada até rebentar no chão',

desce, desce. Entra na zona das velocidades;

o 'mau passo no vazio', mau. mau, tem algo de dissonante, e o sonho ausente do arranha-céu, que fica, para nos lembrar de tudo e sempre

que não podemos, a não ser fora de nós: artificial e estranhamente.

Por isso, cair (em si) como quem não vai se encontrar...

Adoro este texto. Tinha dito no Face, aqui repito: há um trabalho de camadificação cebôlica da queda, tirar camada por camada, com a cápsula-faca (?) de aço inoxidável; mas como que não houvesse nenhum centro, nenhum cerne, no final.

Nunca consigo comentar boa poesia a não ser assim, com outras imagens, reverberações...

Beijo,
Mar

Nuno Rau disse...

Mar, depois deste seu texto, a minha miséria crítica ficou convertida em "fortuna crítica".... :)

obrigado por sua leitura sempre tão atenta, e afetuosa, claro.