segunda-feira, 4 de junho de 2012

Visita de Adriano Wintter e Victor Sosa


 mOhamed ali x ernie terrel

 

 

 

 

 

MAGNÉTICO



mover o amor
como um ímã
que pratas capte
até formar-se
a bala que mate
lupinas e vampes
no cerro do sonho
ou a chave
rara que abra
o átrio cantante
da felicidade



MAGNÉTICO

 (tradução de Victor Sosa)

mover el amor
como un imán
que platas capte
hasta formarse
la bala que mate
lobas y vampiresas
en el cerro del sueño
o la llave
rara que abra
el atrio cantante
de la felicidad


resgate




adeus, fosso escuro
tumba de mundos
chão de tarântulas


adeus, minha ira
meu fracasso
hircus foetidum complexos
ócio pânico fantasmas
traições élan do nada


adeus

junto aos cabos do amor
e às cordas
da aurora
eu subo ao círculo azul
do recomeço


 (uma face me iça)




RESCATE

 (tradução de Victor Sosa)


adiós, foso oscuro
   tumba de mundos
   lar de tarántulas


adiós, mi ira 
   mi fracaso
   hircus foetidum complejos
   ocio pánico fantasmas
   traición élan de la nada 


adiós


 junto a los cabos del amor
 y a las cuerdas
 de la aurora
 yo subo al círculo azul
 del recomienzo 


(una faz me iza) ___________________________________________________
A poesia de Adriano Wintter tem algo do jogo de pernas do boxeador, aquela ginga de corpo que de repente te surpreende com um direto no maxilar, uma imagem que explode, compacta, e arrasta o sentido como o ímã do poema - se a reunião dos estilhaços será bala ou chave, quem sabe? 

As traduções de Victor Sosa, precisas, mantêm a tensão nas cordas do ringue do poema em todos os rounds.

Mais de Adriano Wintter  no blog http://adrianowintter.wordpress.com  e na revista Mallarmargens.
Não esqueça as luvas e os protetores....

sábado, 2 de junho de 2012

Visita de Paula Freitas

[Janela branca e verde com mulher no canto]







Ester


arquear o corpo da mulher. música xilofonada em ossos. tudo são arcadas, fósseis, o sangue apaixonado a se espraiar pelos microcanais das tetas.
Mar Becker



Uma blusa de cetim continha sua aspereza
A superfície da lixa era o Irreal

Dez mil decibéis de madeirame sentir a textura dos lenços sentir a frieza dos metais fala intricada do concreto esfregando átomos epiderme estática elegia de dardos em pele de anjo descascado de éter – filigranas em papel machê amassado – sentir o furor do preto quando o branco insone súmula prepotente excerto voador do tato 
Cabelos entornam a nuvem
Cartel de fogo-abraço
Milícias tocando Schubert
Simultaneidade do esparso  

Absorto onírico o tronco espalha-se a noite tem cem mil escravos uma mulher curva-se a quilômetros no espaço – tecer as notas de guerra – sentar-se beber-se liquefazer o pânico em organogramas teóricos: no centro entorna um copo de leite vazio – como há leite? – não há: solidez mecânica nas patas de barata método para cozer o poema tornar-se pegajoso feito átrio de linguagem esmorecer-se em assomo – a merda espalha-se doloroso o ser sente a origem da insurgente aura

Melancolia de objetos fecais corre o sangue o súbito despertar de espermas – o que há no centro das estrelas? – qualquer outro movimento que não seja selva

Curva-se em triângulo harmonia
O objeto que não seja sonho
Ferido de morte espinho
Intrincado de estrógeno

Em casulo só há o verme quente dourar destroços anima despida de res nos trópicos – soluçar até não sentir os pés, tropeçar sem direção, recôndito solícito de pães forno a lenha do desespero feminil

Ser teu sangue conquanto sem seus céis maresia disforme em contramão ser signo enquanto sopé – dá-me um pedaço de chão – louca tempestade do inaudito semântica fluindo ao controle da mente enlouquecido contido em retóricas crentes: tatear bordas de útero expelir placenta natimorta o filho crescendo invisível assombrando portas

Rochas sobre rodas: o galgar do cavalo cevando cimento – um rapaz chora – aventura emocional sob juncos de asfalto a luzir aquilo que outrora fora lenha: chão de barro pisado, ao fundo decrescentes toras: esguichos de pele-masmorra: muralha do ser 
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A leitura dos poemas de Paula Freitas provocam, sem chance de recusa, um deslocamento. As miríades de imagens, cada uma portando um sentido [ou muitos] fazem você se sentir numa selva, ou num deserto em plena madrugada sob tempestades de areia. Uma viagem sem passagem de volta, passageiro leitor. 

Mais de Paula Freitas no blog I-N-T-E-R-M-E-Z-Z-O. e na revista Mallarmargens.