inspiração
meus mestres estão todos mortos. não sobra um único
mestre
pra me explicar kant, spinoza, milton santos e
eletromagnetismo.
meus mestres morreram no final do século xix/início do
século xx.
de sífilis. de cirrose. suicídio. meus mestres estão
todos mortos
e alguns felizes finalmente. devia dizer que os mestres
são eurídice e orpheu, felizes e realizados – aliança de
casamento
e nem rastro de serpente.
devia dizer em outra língua
em grego em mandarim em hebraico em mallarmaico. devia
orquestrar um tumulto alquímico em legiões de frases
soltas.
mas
meus mestres estão todos mortos.
não sei se os mestres todos já conheceram os pés do
grande demiurgo
mas os meus mestres conhecem. imploram. são feios e
dementes
e em vida eram sem valor e sem amigos e sem
conquistas. mestres
de ninguém. de nada. agora meus mestres estão
contando anedotas para os outros mestres. o maior de
todos em seu
gigante labirinto confessando fantasmagorias
para o confuso rei dos geógrafos e astrônomos. meus
mestres são uns clowns
e gostam da corda. meus mestres estão
ainda mais mestres
e ainda mais mortos.