segunda-feira, 30 de abril de 2012

o artista revolucionário

 grafite de banksy


O artista revolucionário não passa seus dias pensando se ele sofreu o suficiente, ele pega suas ferramentas de arte como armas de libertação.

Pablo Picasso

domingo, 29 de abril de 2012

A única chance de tocar o real, segundo V. Chklovski.

"A automatização engole os objetos, os hábitos, os móveis, a mulher e o medo à guerra.
'Se toda vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como  se esta vida não tivesse sido'.
E eis que para devolver a sensação da vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento  que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser prolongado; a arte é um meio de experimentar o devir do objeto, o que é já 'passado' não importa para arte."
[V. Chklovski]

*Diário de tese: Digo que este artigo, que reproduzi apenas um fragmento, é fundamental para os estudiosos da arte! Uma teoria válida em todos os tempos. (Jacineide Travassos)

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Essa postagem foi emprestada do excelente blog da Jacineide Travassos, A Odisséia de  Penélope,  onde sou agora leitor assíduo. Como admiro os escritos do Chklovski faz tempo, e tem a ver com coisas que venho estudando, achei oportuna essa postagem, meio como um lembrete pra mim mesmo, compartilhado aqui com todos.
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Só queria acrescentar que muita gente se automatiza através da teoria, reproduzindo discursos, reproduzindo discursos, reproduzindo discursos, e não fazendo, da teoria, arte.

Poderia chamar este post de 'medidas drásticas', 'a queda da muralha da China', 'desvio para o vermelho' etc., mas preferi mesmo 'a única chance de tocar o real'. Se arte não é isso, ainda não sei o que seja. E talvez nem me interesse por ela.


quarta-feira, 25 de abril de 2012




"Talvez a imobilidade das coisas ao nosso redor lhes seja imposta pela certeza de que tais coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade do nosso pensamento em relação a elas."


Marcel Proust

segunda-feira, 23 de abril de 2012

jogos de armar/ no espelho






Se você tem algo, de fato, a escrever sobre o tempo, perceba que ainda uma outra vez ele passou de vez sem que você soubesse que a chance de dizer as poucas coisas que lhe foram caras, na esperança vaga de que tais palavras sustentadas pelo poema possam, na sua dança, tatuar em outro corpo a mesma marca, está perdida: o mundo segue algum desvio, desesperos portáteis, vãos, gomorras sem o olhar de um deus, distopia e corrosão do século vinte e um, dessublimações, falsa anunciação que lhe afunda em soul, sexo e melancolia.

sobre a poesia (quase sem querer)




Ao escrevermos, como evitar que escrevamos sobre aquilo que não sabemos ou que sabemos mal? É necessariamente neste ponto que imaginamos ter algo a dizer. Só escrevemos na extremidade de nosso próprio saber, nesta ponta extrema que separa nosso saber e nossa ignorância e que transforma um no outro. 

Gilles Deleuze
(Diferença e repetição, 1988)

domingo, 22 de abril de 2012

Visita da poeta Nina Rizzi !


Numa conversa sobre imagens no FB, alguns poetas postaram seus poemas. 
Este poema da Nina é dessa safra, e me impressionou muito, pelas suas imagens vertiginosas, pela sensação de viagem o tempo todo. Ela escreve no blog Quandos . O poema, aí está:



[outra variação pra atravessamento, nina rizzi]


quando sexta adoeci, era noite baixa, o largo distante e vago
refém das ilusões perdidas, meti-me no coletivo
e deixei sacolejar no último banco a cabeça
em sincronia com as voçorocas, batendo forte na janela fechada

e como não escorresse sangue, corri
como se nas escadarias do chateau de nilda

luxúria, pó, a agonia encarnada no homem
que só me serve por ser bruto, arisco
pronto a me matar em espada, ferro e convulsão

pra rebentar os óculos, a insegura caverna
levitar até arder o esquecimento
preciso dessa dor que me atravessa os idos
e o invisível, me rasgando a carne, até o levitar

dos ossos com a terra, esvaziar-se, des-
ser.


PIRATAS E TUBARÕES (Hernán Casciari)

 grafite de banksy
reblogado do site do Leoni - não à-toa, um dos criadores e divulgadores do conceito de "música líquida". 

(Semana passada, a bem-sucedida escritora valenciana Lucía Etxebarría anunciou sua retirada por tempo indefinido do mundo literário, como forma de protesto contra a pirataria.Uma parte do mundo editorial se pronunciou em seu apoio, mas Hernán Casciari, autor do “blogoromance” Más respeto que soy tu madre (adaptado ao teatro por Antonio Gasalla) e editor desse sucesso esquisito que é a revista Orsai (sem anunciantes e vendida antecipadamente) publicou esta carta na qual diz a Lucía que não é para tanto e que os maus estão em todos os lugares.) 

  "O contador de assinaturas anuais da nova revista Orsai acaba de chegar a mil. Em nove dias, e sem notícias sobre o conteúdo ou a quantidade de páginas, mil leitores já compraram as seis revistas do próximo ano. E isso que todos sabem que sairá uma versão em pdf, gratuita, no mesmo dia em que a revista chegue às casas deles. Repito: acabamos de vender seis mil revistas. Seiscentas e sessenta e cinco por dia. Vinte e oito por hora. Ao mesmo tempo, uma escritora espanhola acaba de anunciar que deixará de publicar. “Visto que foram feitos mais downloads ilegais do meu romance do que foram comprados exemplares, anuncio que não publicarei mais livros”, disse ontem Lucía Etxebarría. 

A impressa tradicional fez eco a essas palavras e a indústria editorial complementou: “Pobrezinha, olhem o que a internet está fazendo com os autores”. Acontece o mesmo com a gente. Durante 2011 editamos quatro revistas Orsai. Vendemos uma média de sete mil exemplares de cada uma, e com esse dinheiro pagamos (extremamente bem) todos os autores. Os pdf’s gratuitos dessas quatro edições alcançaram seiscentos mil downloads ou visualizações na internet. Vendemos sete mil, baixaram seiscentos mil. Se os casos de Lucía Etxebarría e da Orsai são idênticos, e ocorrem no mesmo mercado cultural, por que nos causam alegria e a ela só causam desânimo? A resposta talvez esteja em que se trata do mesmo mercado mas não do mesmo mundo. Existe cada vez mais um mundo efervescente em que o número de downloads e o número de vendas físicas se complementam; seus autores dizem: “que bom, quanta gente me lê”. Mas ainda existe um mundo velho onde um número se subtrai ao outro; seus autores dizem: “que espantoso, quanta gente não me compra”. 

O velho mundo se baseia em controle, contrato, exclusividade, confidencialidade, trava, representação e dividendo. Tudo o que acontecer fora de seus padrões é cultura ilegal. O novo mundo se baseia em confiança, liberdade de ação, criatividade, paixão e entrega. Tudo o que acontecer dentro e fora de seus parâmetros é bom, contanto que as pessoas aproveitem a cultura, pagando ou sem pagar. Dizendo de outra maneira: Lucía ser pobre não é culpa dos leitores que não pagam, e sim do modo como seus editores repartem os lucros vindos dos leitores que pagam. Mundo velho, mundo novo. 

Há algumas semanas vivi um caso que deixa muito claro o que ocorre quando esses dois mundos se cruzam. Vou contar para a Lucía e para vocês porque é divertido: Uma editora da Alfaguara (Grupo Santillana, Madri) me liga e me diz que estão preparando uma Antologia da Crônica Latinoamericana Atual. E que querem um conto meu que aparece no meu último livro, “um conto que se chama tal e tal, de que a gente gosta muito”. Respondo que lógico, que pegue o conto que quiser. Ela me responde que me enviará um e-mail para solicitar autorização formal. Digo que tudo bem. “Caro Hernán, lhe explico o que adiantei por telefone: a Alfaguara editará em breve uma antologia de bla bla bla cuja seleção e prólogo ficou a cargo de Fulaninho de Tal. Ele deseja incluir o teu conto Xis. Se você está de acordo com o contrato que anexei, envie duas cópias com todas as páginas assinadas ao seguinte endereço” (e inclui o endereço de Prisa Ediciones, Alfaguara). Abro o arquivo em anexo, leio o contrato. Me fascina a leitura de contratos do mundo velho. Não se preocupam nem um pouco em disfarçar suas gravatas. Me pedem um conto que chamam de “La Aportación”. A cláusula 4 diz que “o editor poderá efetuar quantas edições julgue convenientes até um máximo de cem mil (100.000)”. A cláusula 5 diz: “Como remuneração pela cessão de direitos de “La Aportación”, o editor pagará ao autor cem euros (100?) brutos, valor sobre o qual incidirão os impostos e se praticarão as deduções cabíveis”. Pensei nos outros autores que compõem a antologia, nos que com certeza assinam contratos assim. Cem euros menos impostos e deduções são sessenta e três euros, e disso ainda se retiram os quinze por cento do agente ou representante (todos têm um), ou seja, o autor fica com cinquenta e três euros na mão. Não importa se a editora vende dois mil livros ou cem mil livros. O autor sempre leva cinquenta e três euros. 

Será que Lucía Etxebarría assina contratos assim? Nessa mesma tarde respondi o e-mail à editora da Alfaguara: “Oi Laura, o conto que vocês querem aparece no meu último livro, que é distribuído sob licença Creative Commons Reconhecimento 3.0 Unported, que é a mais generosa. Isso significa que vocês podem compartilhar, copiar, distribuir, executar, realizar obras derivadas e inclusive fazer uso comercial de qualquer um dos contos, desde que vocês digam quem é o autor. Te dou o texto de presente para você fazer com ele o que quiser, e que este e-mail sirva de comprovante. Mas eu não posso assinar essa porcaria legal assombrosa. Um beijo. A resposta chegou alguns dias depois; já não era ela que escrevia, senão outra pessoa: “Hernán: entendemos isso, mas o departamento legal precisa que você assine o contrato para não termos problemas no futuro. Saudações!” E aí eu não respondi mais. Para que continuar a corrente de e-mails? 

A historinha é essa, não é grande coisa. Mas eu quero dizer, ao contá-la, que não temos de lutar contra o velho mundo, nem sequer temos que debater com ele. Temos que deixá-lo morrer em paz, sem incomodá-lo. Não temos que enxergar o mundo velho como aquele pai castrador que foi nos seus bons tempos, mas sim como um vovô com alzheimer. 

 - Me dá isso? – diz o vovô. 
- Sim, vovô, toma. 
- Não, assim não. Assina pra mim esse papel onde você diz que me dá isso e em troca eu cuspo em você. 
- Não precisa disso, vovô, eu te dou. É de graça. 
- Eu preciso que você assine esse papel, não posso aceitar de graça! 
- Mas por quê, vovô? 
- Porque se eu não te ferro de alguma maneira, eu não sou feliz. 
- Bom, vovô, outro dia a gente se fala… Te amo muito. 

E amamos muitos esse vovô de verdade. Há vinte, trinta anos, esse homem que agora está gagá nos ensinou a ler, pôs livros formidáveis nas nossas mãos. Não temos que discutir com ele, porque gastaríamos energia no lugar errado. Temos que usar essa energia para fazer livros e revistas de outra maneira; temos que voltar a nos apaixonar por ler e escrever, temos que defender até a morte a cultura para que ela não esteja nas mãos de avôs gagás. Mas não temos que perder tempo lutando contra o avô. Temos que falar exclusivamente com nossos leitores. Lúcia: você tem um monte de leitores. Você é uma escritora de sorte. O demônio não são seus leitores; nem os que compram seus romances os que baixam as suas histórias na internet. Não há demônios, na verdade. O que há são dois mundos. Duas maneiras diferente de fazer as coisas. Está em você, em nós, em cada autor, continuar assinando contratos absurdos com velhos dementes, ou começar a escrever uma história nova e que todo mundo possa ler."

quinta-feira, 19 de abril de 2012

NOVA EDIÇÃO DA REVISTA ZUNAI (Reblogado do "De ter de onde se ir", de Mar Becker)

Nota: nova edição da Revista Zunái "Caros, não se esqueçam de conferir a nova edição da Revista Zunái. Os poetas Diogo Cardoso, Daniel Faria, Roberta Tostes Daniel e Andréia Carvalho, que já publiquei aqui no blogue, apareceram por aquelas bandas :)!"

quarta-feira, 18 de abril de 2012

jogos de armar /por dentro, por fora

Vivendo como um pária, neste exílio de uma pátria que não existe a não ser na mais absurda alucinação, nenhum dia me abre o seu sentido. Mas isso é por dentro: além do corpo, mundo afora, as coisas seguem normais em seu destino, superficiais até o limite e assim é o mundo todo. Só que isto é por fora: sob estas coisas, sob a pele das coisas arde um tal incêndio, uma inconstância, um vago mal estar sem ponto fixo entre as doidas vertigens da espiral que é pensar, via inútil entre as muitas que há. (foto reblogada de lonuestroydenadiemas.tumblr.com/)

domingo, 15 de abril de 2012

Novo artigo no CARACTAGS

O dia em que O Rappa visitou a Caverna de Platão: http://www.caractags.com.br/blog/2012/04/15/o-dia-em-que-o-rappa-visitou-a-caverna-de-platao/?subscribe=already#blog_subscription-2
(Platão e O Rappa - caricatura de Douglas Milne-Jones)

O POETA E SEU SÉCULO DEMENTE (todos os séculos...)

(grafitti de Banksy) "Em 1923, Osip Mandel'stam escreve uma poesia que se intitula 'O século' (mas a palavra russa 'vek' significa também 'época'). Essa contém não uma reflexão sobre o século, mas sobre a relação entre o poeta e o seu tempo, isto é, sobre a contemporaneidade. Não o século, mas, segundo as palavras que abrem o primeiro verso, o 'meu século' (vek moi): "Meu século, minha fera, quem poderá/olhar-te dentro dos olhos/e soldar o sangue/as vértebras de dois séculos." O poeta, que devia pagar a sua contemporaneidade com a vida, é aquele que deve manter fixo o olhar nos olhos do século-fera, soldar com o seu sangue o dorso quebrado do tempo. [...] o tempo da vida do indivíduo e o tempo histórico coletivo, que chamamos, nesse caso, o século XX, cujo dorso [...] está quebrado. Não apenas a época-fera tem as vértebras fraturadas, mas 'vek', o século recém-nascido, com um gesto impossível para quem tem o dorso quebrado quer virar-se para trás, contemplar as próprias pegadas e, desse modo, mostra o rosto demente." Giorgio Agamben, "O que é o contemporâneo?"

sábado, 14 de abril de 2012

Visita da poeta Adelaide do Julinho !




(quando da postagem [no FB] de "jogos de armar/trajeto" com a foto 'Falling Man', minha nova amiga Adelaide do Julinho postou o seguinte comentário: "O trajeto desmontado no jogo de armar. Que bom se fosse o contrário: a foto invertida, o homem saindo do chão." Num mundo sem referências, de pernas pro ar e sem saber onde é o chão, achei incrível a sugestão dela, e criei nova postagem com a sugestão realizada, como aqui ao alto. Vários amigos postaram comentários e alguns poemas, todos interessantes - mas a concisão samurai de Adelaide destes versos foi a melhor tradução da vertigem da "queda pro alto". Então taí, o poema!)


mergulho

alto e avante:
pra cima, nenhum santo ajuda
do céu não passa

sobre poesia, invenção e poesia de invenção





“Falando a respeito da poesia, sempre na Gaia Ciência, Nietzsche afirma haver quem procure a origem [Ursprung] da poesia, quando na verdade não há Ursprung da poesia, há somente uma invenção da poesia. Um dia alguém teve a ideia bastante curiosa de utilizar um certo número de propriedades rítmicas ou musicais da linguagem para falar, para impor suas palavras, para estabelecer através de suas palavras uma certa relação de poder sobre os outros. Também a poesia foi inventada ou fabricada.”

“A invenção [Erfindung] para Nietzsche é, por um lado, uma ruptura, por outro, algo que possui um pequeno começo, baixo, mesquinho, inconfessável. Este é o ponto crucial da Erfindung. Foi por obscuras relações de poder que a poesia foi inventada. Foi igualmente por puras obscuras relações de poder que a religião foi inventada. Vilania portanto de todos esses começos quando são opostos à solenidade da origem tal como é vista pelos filósofos.O historiador não deve temer as mesquinharias, pois é de mesquinharia em mesquinharia, de pequena em pequena coisa, que finalmente as grandes coisas se formaram. À solenidade da origem, é necessário opor, em bom método histórico, a pequenez meticulosa e inconfessável dessas fabricações, dessas invenções.”

Michel Foucault em “A verdade e as formas jurídicas”
(tradução de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais)

terça-feira, 10 de abril de 2012

jogos de armar/ trajeto


(Falling Man - fotografia de Richard Drew, em 11 de setembro de 2001)

Entrar (, violento, abrupto como cápsula de metal, nave que incandesce enquanto cai no ar denso, metáfora brilhando rubra na escuridão do céu, diáspora em que não se sai, antes se mergulha no nada até rebentar no chão qual semente e, assim, germinar) no real, cair (, precipitar-se numa fuga pelo abismo, voluntário mau passo no vazio, deixando o chão que o arranha-céu alçou, artificial e estranhamente, ao antes impossível espaço dos pássaros, verter-se até o fim como quem não vai se encontrar) em si.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

jogos de armar / + 1 lance





descendo mais um lance em espiral da escada, traço rápido um grafite com o sorriso do gato de Alice, enigmático e superficial, simulando um motivo metafísico no que risquei, afastado da arte, pelas paredes. Não, é só da carne que falo, mesmo escondido num mínimo enigma e agarrado ao corrimão no mergulho áspero rumo ao centro inatingível, sem provar qualquer profundidade, luminosa ou não, nas coisas – e a escada vai descendo abrupta e sem volta como viver.

Visita da poeta Mar Becker !


(tela de Lucien Freud)


Não gosto de jogar confete, dourar pílula ou outras atitudes do tipo - mas a poesia de Mar Becker é mesmo uma das mais fortes, profundas e impressionantes das que li nos últimos anos. Impossível não se deter, não ficar com a respiração suspensa, os sentidos embaralhados e a razão entre iluminada e confusa. E já falei demais. Quem quiser experimentar isso, que leia o poema.


Do meu caderno de experimentações - LXXVII


arquear o corpo da mulher. música xilofonada em ossos. tudo são arcadas, fósseis, o sangue apaixonado a se espraiar pelos microcanais das tetas.

cabeça, o lustre absoluto. uma imensa copa cujos galhos se inclinam para o outro lado da noite: ouve-se o silêncio, o tônus secreto das línguas, como que varado por um fogo de patas, que bate casco. queima, fluído.

dizem, é o canto desentranhado, a delicada implosão do músculo da luz; dizem, é o amor, de repente, uma lira quadrúpede que se deixa tanger pelo crime, este crime lentamente masculino.

tudo canta por baixo dos testículos tombados.

Publicado em http://deterdeondeseir.blogspot.com/

domingo, 1 de abril de 2012

cinco ou seis maneiras de se perder na cidade




você tem cinco ou seis maneiras de se perder
na cidade Numa delas
o Livro dos Espíritos é um oráculo
tatuado em braile na pele
de meninas mestiças que dançam
nuas sobre lençóis grená
um cântico sufi enquanto
o sentido arde em suas vísceras e seus pés
escrevem um livro chamado
motel nosso lar Em outra
o labirinto de memórias detona
a dessublimação feroz
que você rasura no Breviário
das Horas, estação
por estação, como se isso
criasse qualquer âncora
entre você e o mundo E ainda uma
que repete ao infinito a metamorfose
em que diante do abismo você
é um poema escrito numa língua
estranha cujo último verso
esconde uma
chave As outras não
interessam