domingo, 27 de maio de 2012

Visita: Gabriel Resende Santos





inspiração

meus mestres estão todos mortos. não sobra um único mestre
pra me explicar kant, spinoza, milton santos e eletromagnetismo.
meus mestres morreram no final do século xix/início do século xx.
de sífilis. de cirrose. suicídio. meus mestres estão todos mortos
e alguns felizes finalmente. devia dizer que os mestres
são eurídice e orpheu, felizes e realizados – aliança de casamento
e nem rastro de serpente.  devia dizer em outra língua
em grego em mandarim em hebraico em mallarmaico. devia
orquestrar um tumulto alquímico em legiões de frases soltas.
mas
meus mestres estão todos mortos.
não sei se os mestres todos já conheceram os pés do grande demiurgo
mas os meus mestres conhecem. imploram. são feios e dementes
e em vida eram sem valor e sem amigos e sem conquistas.  mestres
de ninguém. de nada. agora meus mestres estão
contando anedotas para os outros mestres. o maior de todos em seu
gigante labirinto confessando fantasmagorias
para o confuso rei dos geógrafos e astrônomos. meus mestres são uns clowns
e gostam da corda. meus mestres estão
ainda mais mestres
e ainda mais mortos.

5 comentários:

gabriel resende santos disse...

Obrigado, Nuno! Uma honra dividir o espaço do seu blog com tanta gente boa. E que as conversas continuem =)

Abração.

Ana Cau disse...

boa inspiração.... que bons ventos e pensamentos lhe tragam mais inspirações !!!

f.f. disse...

poema que eu gostaria de ter escrito

Walter Ribeiro disse...

Lindo poema, Nuno Rau!

Máh disse...

Adorei o poema, Gabriel e obrigado Nuno por nos dar o prazer de ler novos talentos.