sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Michel Foucault e a origem da poesia ou: que se dane a caçuleta, eu quero é rosetar!





“Falando a respeito da poesia, sempre na Gaia Ciência, Nietzsche afirma haver quem procure a origem [Ursprung] da poesia, quando na verdade não há Ursprung da poesia, há somente uma invenção da poesia. Um dia alguém teve a idéia bastante curiosa de utilizar um certo número de propriedades rítmicas ou musicais da linguagem para falar, para impor suas palavras, para estabelecer através de suas palavras uma certa relação de poder sobre os outros. Também a poesia foi inventada ou fabricada.”

“A invenção [Erfindung] para Nietzsche é, por um lado, uma ruptura, por outro, algo que possui um pequeno começo, baixo, mesquinho, inconfessável. Este é o ponto crucial da Erfindung. Foi por obscuras relações de poder que a poesia foi inventada. Foi igualmente por puras obscuras relações de poder que a religião foi inventada. Vilania portanto de todos esses começos quando são opostos à solenidade da origem tal como é vista pelos filósofos.O historiador não deve temer as mesquinharias, pois é de mesquinharia em mesquinharia, de pequena em pequena coisa, que finalmente as grandes coisas se formaram. À solenidade da origem, é necessário opor, em bom método histórico, a pequenez meticulosa e inconfessável dessas fabricações, dessas invenções.”

Michel Foucault em “A verdade e as formas jurídicas”
(tradução de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais)

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