sábado, 8 de setembro de 2012

concerto

(Pierrete, tela de Di Cavalcanti, 1922)




ela me sorri  como se nada, longos
cabelos, crina onde se encrespa
o meu desejo no delírio de morfina
das imagens da natureza, ela parece
não sentir a vertigem de tudo,
ao fundo a gravura de um adolescente
com asas, partem de seu sexo raios
em todas as direções, não dos olhos
ou do peito, e ainda espreito, mudo,
alguém  que tenha a alma sutil
no cubículo do mundo, na volúpia
dos ardis ela desabilita o sentido
que, desfeito, espera no meio do salto
mortal ser salvo no último segundo
enquanto ela me sorri como se nada

 



[em itálico, samplers do poema Pierrete, de Manuel Bandeira]
(por Nuno Rau)


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