(Pierrete, tela de Di Cavalcanti, 1922)
ela me sorri como se nada, longos
cabelos, crina onde se encrespa
o meu desejo no delírio de morfina
das imagens da natureza, ela parece
não sentir a vertigem de tudo,
ao fundo a gravura de um adolescente
com asas, partem de seu sexo raios
em todas as direções, não dos olhos
ou do peito, e ainda espreito, mudo,
alguém que tenha a alma sutil
no cubículo do mundo, na volúpia
dos ardis ela desabilita o sentido
que, desfeito, espera no meio do salto
mortal ser salvo no último segundo
enquanto ela me sorri como se nada
[em itálico, samplers do poema Pierrete, de Manuel Bandeira]
(por Nuno Rau)
também em Mallarmargens
e em De ter de onde se ir
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