domingo, 2 de dezembro de 2007

a um poeta



para Antônio Cícero



Seus versos têm uma serenidade
(como os gestos que, sempre tão medidos,
só se agitam se falam da poesia)

que não tenho, não tive ou que perdi,
e se me fosse dado amar a um homem
(e não seria este destino um fardo,

mas é impossível pela conjunção
dos desígnios da carne e do espírito
em mim) decerto, sei, o amaria

- como já amo, em termos, pelas linhas
que sempre sua mão no tempo risca
e, às vezes, sigo como um estudante

que sabe estar o mestre muito acima
(um bom poeta, estando vivo ou não,
continua crescendo todo dia)

e o ama mesmo assim, porque o amor
é uma coisa que se tem por dentro
ou não se tem, assim como as palavras

que só esplendem quando bem domadas.
E foi por isso que fiz estes versos
mal acabados e quase sem luz

só pra ficar aqui, tranquilamente,
na antítese do amor que não quer nada
- porque no fundo nada é o que se tem.

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