[Janela branca e verde com mulher no canto] |
Ester
arquear o corpo da mulher. música xilofonada em
ossos. tudo são arcadas, fósseis, o sangue apaixonado a se espraiar pelos
microcanais das tetas.
Mar Becker
Uma blusa de
cetim continha sua aspereza
A superfície da
lixa era o Irreal
Dez
mil decibéis de madeirame sentir a textura dos lenços sentir a frieza dos
metais fala intricada do concreto esfregando átomos epiderme estática elegia de
dardos em pele de anjo descascado de éter – filigranas em papel machê amassado
– sentir o furor do preto quando o branco insone súmula prepotente excerto
voador do tato
Cabelos entornam
a nuvem
Cartel de
fogo-abraço
Milícias tocando
Schubert
Simultaneidade
do esparso
Absorto onírico o tronco espalha-se a noite tem cem mil escravos uma mulher curva-se a quilômetros no espaço – tecer as notas de guerra – sentar-se beber-se liquefazer o pânico em organogramas teóricos: no centro entorna um copo de leite vazio – como há leite? – não há: solidez mecânica nas patas de barata método para cozer o poema tornar-se pegajoso feito átrio de linguagem esmorecer-se em assomo – a merda espalha-se doloroso o ser sente a origem da insurgente aura
Melancolia
de objetos fecais corre o sangue o súbito despertar de espermas – o que há no
centro das estrelas? – qualquer outro movimento que não seja selva
Curva-se em
triângulo harmonia
O objeto que não
seja sonho
Ferido de morte
espinho
Intrincado de
estrógeno
Em casulo só há o verme quente dourar
destroços anima despida de res nos trópicos – soluçar até não sentir os pés,
tropeçar sem direção, recôndito solícito de pães forno a lenha do desespero
feminil
Ser teu sangue conquanto sem seus céis
maresia disforme em contramão ser signo enquanto sopé – dá-me um pedaço de chão
– louca tempestade do inaudito semântica fluindo ao controle da mente
enlouquecido contido em retóricas crentes: tatear bordas de útero expelir
placenta natimorta o filho crescendo invisível assombrando portas
Rochas sobre rodas: o galgar do cavalo
cevando cimento – um rapaz chora – aventura emocional sob juncos de asfalto a
luzir aquilo que outrora fora lenha: chão de barro pisado, ao fundo
decrescentes toras: esguichos de pele-masmorra: muralha do ser
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A leitura dos poemas de Paula Freitas provocam, sem chance de recusa, um deslocamento. As miríades de imagens, cada uma portando um sentido [ou muitos] fazem você se sentir numa selva, ou num deserto em plena madrugada sob tempestades de areia. Uma viagem sem passagem de volta, passageiro leitor.
Mais de Paula Freitas no blog I-N-T-E-R-M-E-Z-Z-O. e na revista Mallarmargens.
Mais de Paula Freitas no blog I-N-T-E-R-M-E-Z-Z-O. e na revista Mallarmargens.
Um comentário:
Nuno, que ótimo ver um texto meu aqui no meio de tanta coisa boa!
Fico muito feliz pela publicação!
Abraços e obrigada,
Paula
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