"O cômico é uma tentativa de apaziguar o mundo trágico e de reconciliar
com ele o ser humano. Brincar com alguma coisa é uma forma de não
participar, de não se envolver nela. Para Bergson,o cômico exige uma
'momentânea anestesia do coração', pois é o nosso estado de espírito que
caracteriza um fato como trágico ou cômico e a emoção profunda é
inconciliável com o riso. A relação da arte com o mundo pode, assim, ser
percebida do ângulo irônico, contraditório e polissêmico, na
ambivalência observador/observado. A presença do real se dá em dimensão
irônica, já que sua 'realidade' se tinge de 'irrealidade'."
Bella Josef , em 'A máscara e o enigma', Ed. Francisco Alves, 1896, p. 17.
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"Não participar" é, em si,
um gesto político, uma forma de dizer ‘não’ a determinado jogo, uma declaração,
que leva ao que me respondeu Antônio Lazulli num papo: "participar sem se
imiscuir". Como o humor trabalha pela deformação do real, com uma lente de
aumento sobre certo trecho, põe a nu aquilo que se pretendia escondido no
'conjunto da obra' (o aumento demonstra a irrealidade que é parte constitutiva
daquilo que chamamos de real). Acho que é por isso que ela menciona a 'momentânea
anestesia do coração' - porque estamos diante de um procedimento cirúrgico, em
que a razão irônica segura um bisturi e com toda precisão retira o cancro que
precisa expor - porque o riso é contencioso. Como disse um dos malucos que mais amo: “Tome, doutor, essa
tesoura e corte/ minha singularíssima pessoa.”
Uma das perguntas que fica é: pode-se
portar o bisturi com emoção?
Outra: isso importa?
3 comentários:
"Pode-se portar o bisturi com emoção?"
Na poesia sempre. No hospital, nunca!
Importa? ô
mas acho que o ideal é uma emoção intensa e tranquila.
Possível?
Responde aí, Nuno!
"Pode-se portar o bisturi com emoção?"
Na poesia sempre. No hospital, nunca!
Importa? ô
mas acho que o ideal é uma emoção intensa e tranquila.
Possível?
Responde aí, Nuno!
Importa. Se com emoção, melhor ainda...
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